João Tavares: enfrentou a Ditadura para exercer a sua fé

João Tavares em fotografia do ano de 2024. Foto: Railson Wallace.

João Tavares Brito da Cruz nasceu no ano de 1951, no rio Maúba, interior do município de Igarapé-Miri, divisa com município de Abaetetuba. Passou sua infância naquela localidade, onde trabalhou como pescador, em atividades como a pesca do camarão e a pesca do mapará, trabalhando também em lavrouras de cana-de-açúcar junto ao seu pai, sendo a produção, abastecia os engenhos da região do rio Panacauera, como o Engenho Mambo e o Engenho Santa Cruz.

Desde criança, quando ainda morava no rio Maúba, João já tinha uma conexão com as entidades da umbanda, as forças sobrenaturais já se manifestavam em sua vida. Isso fez com que a sua família se mudasse para o município de Abaetetuba, pois seus pais não aceitavam o dom de seu filho. O pai e a mãe de João, acreditavam que se a família saísse daquela localidade, acabariam as manifestações na vida de João. 

João Tavares em seu terreiro no Bairro da Matinha.
Foto: Ricardo William.

Ao chegar no município de Abaetetuba, João começou a trabalhar em lavrouras "roça", mas mesmo assim não adiantou, pois as manifestações em sua vida ficaram cada dia maiores, já era evidente o seu chamado para a umbanda, então João Tavares resolveu abraçar de vez a cultura dessa religião de matriz africana. Ainda com 14 anos foi preso pela ditadura, por exercer sua fé, após ser denúnciado, foi condenado a prisão, mas o juiz daquela época deu a ordem para soltá-lo e mandou o delegado emitir uma licença que permitiria João de praticar sua religião livremente. 

Barracão Joana Darc do Sr. João Tavares. Foto: Railson Wallace.

Depois de anos, o vereador Miguel Seco e o senhor José Ferreira que residiam no rio Meruú, junto ao senhor Sabá que morava no rio Jamorim, pediram o retorno de João Tavares para o município de Igarapé-Miri. João passou a morar em uma casa que pertencia ao Senhor Sabá, que ficava localizada no bairro da Matinha. Anos depois, João encontrou sua afilhada, que lhe doou o terreno, onde construiu o barracão "Joana Darc" (em homenagem a santa francesa), lá João Tavares pôde exercer sua fé e praticar a sua religião.

João Tavares venceu a prisão, venceu o preconceito pela sua fé, e hoje, é um dos líderes da comunidade dos bairros da Matinha e do Jatuíra. Seu João é um exemplo de luta e superação.

História na íntegra


Tia Curumim da Vila Menino Deus do Anapu

Tia Curumim em fotografia do ano de 2024. Foto: Marlon Rodrigues.

Maria do Rosário Ferreira, conhecida popularmente como Tia Curumim, nasceu no rio Anapu, interior do município de Igarapé-Miri, no dia 01 de outubro de 1937. É filha de Sebastiana Pena Ferreira e Valdemar Lopes Maia. 
Aos 7 anos, Curumim perdeu seu pai que veio a falecer, sendo ela e sua irmã, criadas pelos seus avos Margarida Machado Maia e Delino Lopes Maia. Tia Curumim mora desde sua infância na Vila Menino Deus, enquanto sua irmã foi morar na casa da madrinha, na capital, Belém. 
Ainda em sua infância, uma família oriunda de Abaetetuba comprou um terreno no local onde hoje fica a Vila Menino Deus e construíram algumas indústrias, passando ela a morar com essa família, pois trabalhava como babá naquela casa. Curumim morou na casa dessa família até completar seus 15 anos, pois eles foram embora da localidade, passando ela a morar com a sua mãe. Hoje Tia Curumim reside há mais de 30 anos em sua atual residência.

Casa onde Tia Curumim reside há mais de 30 anos.
Foto: Railson Wallace.

Segundo Tia Curumim, na Vila Menino Deus, são 7 casas antigas contando com a dela, que ainda estão de pé e ressalta que seus filhos, netos e bisnetos, todos nasceram naquela localidade. 
Pela a falta de escolas de séries mais avançados na localidade, ela estudou somente até a 3° série do ensino fundamental, pois nesse tempo quem quisesse dar prosseguimento aos estudos, teria que se mudar para a cidade de Igarapé-Miri. Como ela não tinha condições financeiras, encerrou seus estudos. Já adulta, todos os filhos de Tia Curumim foram estudar na cidade, estando hoje, todos então formados. 

Tia Curumim em sua juventude. Foto: Marlon Rodrigues.

Hoje, moradora viva mais antiga da Vila Menino Deus do Anapu, Curumim diz que a vila cresceu bastante, pois no seu tempo de juventude, era apenas um caminho com poucas casas na beira do rio. Ela se sente feliz por todos os seus filhos estarem au seu lado, pois não tem interesse em abandonar sua casa, o lugar onde cresceu e foi criada.
                                                     

História na íntegra


Antonio Rodrigues e o Iate Flor de Sant'Ana

Antonio Rodrigues em fotografia do ano de 2023. Foto: Railson Wallace.

Antonio Rodrigues Quaresma, conhecido popularmente como "Tio da Raspadinha", nasceu no interior do município de Igarapé-Miri, em 22 de novembro do ano de 1958. Em sua infância, Antonio trabalhou em lavouras com seu pai, aos 21 anos, conheceu sua esposa que engravidou, permanecendo ainda morando na casa de seu pai, até os 22 anos. 
Como a gravidez de sua esposa era alto de risco, Antonio teve que se mudar temporariamente para a casa de seus sogros, na cidade de Igarapé-Miri, pois devido a impossibilidade de um parto normal, ter a criança na cidade era a melhor opção, pois Igarapé-Miri já possuia um hospital/maternidade.
Após um tempo na casa de seus sogros e já com seu primeiro filho, Antonio decidiu ficar na cidade, morando inicialmente em uma casa alugada, logo conseguiu um emprego em uma Fábrica de Palmito. 

Antonio Rodrigues e o Iate Flor de Sant'Ana em fotografia do ano
de 2023. Foto: Railson Wallace.

Posteriormente, Antonio passou a trabalhar em Vila do Conde, no município de Barcarena, mas por não se adaptar ao local, decidiu retornar para Igarapé-Miri, após três meses de trabalho. Em 1977, começou a trabalhar em uma serraria em Igarapé-Miri, onde permaneceu por 10 anos, ganhando uma casa em madeira do proprietário da serraria, Antonio reside no local até hoje (no mesmo terreno foi construída uma casa em alvenaria).

Antonio em frente a sua casa em fotografia do ano de 2023. Foto: Railson Wallace.

Enquanto trabalhava na serraria, Antonio construiu um carrinho de raspadinha, passando a trabalhar vendendo o refrescos sempre aos fins de semana, quando tinha folga do trabalho. Em 1988, com a falência da serraria, Antonio passou a trabalhar somente no Iate Flor de Sant'Ana, exercendo o mesmo trabalho até os dias atuais. O nome do seu famoso carrinho da raspadinha, é uma homenagem a padroeira de Igarapé-Miri, Sant'Ana, da qual Antonio é um fiel devoto. A raspadinha é uma bebida muito popular na cidade de Igarapé-Miri, feita da mistura de gelo raspado e sucos de frutas.

Antonio raspando gelo em fotografia do ano de 2023. Foto: Railson Wallace.

Hoje, Antonio mora com sua esposa e seu filho em uma casa localizada na Rua Rui Barbosa (África), no centro da cidade de Igarapé-Miri. Seu Antonio e o Iate Flor de Sant'Ana são figuras carimbadas das ruas da cidade de nossa cidade, sendo considerados verdadeiros patrimônios culturais do município.

História na íntegra

Tio Vá Coveiro do Cemitério Bom Jesus

Tio Vá em fotografia do ano de 2023. Foto: Marlon Rodrigues.

João Batista dos Santos Moraes, conhecido popularmente como Tio Vá, nasceu em 06 de abril do ano de 1944, na Estrada Alves Teixeira, atual bairro da Boa Esperança, cidade de Igarapé-Miri. Em sua infância, Tio Vá trabalhou em várias lavouras com seus pais e foi vendedor de frutas, como, pupunha e laranja. Em 1976, aos 32 anos, Tio Vá começou a trabalhar como coveiro do Cemitério Bom Jesus dos Passos de Igarapé-Miri, iniciando assim, uma longínqua história que o consagrou como uma figura "folclórica" de nossa cidade.

Cemitério Bom Jesus dos Passos, local de trabalho de Tio Vá.
Foto: Railson Wallace.

Em quase cinco décadas de trabalho como coveiro, Tio Vá presenciou várias mudanças no Cemitério Bom Jesus, desde a sua ampliação até o superlotamento atual da principal necrópole de Igarapé-Miri. 
É rotineiro passar em frente ao Cemitério Bom Jesus e ver Tio Vá no portão ou nas proximidades daquele campo-santo, pois ele passa parte do dia naquele local, sendo o principal guia das pessoas que procuram pelas sepulturas dos seus entes queridos. Mesmo no período da pandemia Tio Vá continuou desempenhando a sua profissão, auxiliando nos numerosos enterros das vítimas da COVID-19, atendendo aos chamados em todos os horários, inclusive nas madrugadas. 

Tio Vá acariciando uma cadelinha que mora no Cemitério Bom Jesus. Foto; Railson Wallace.

Tio Vá é uma figura bastante conhecida no município e reside com sua família no bairro da Cidade Nova. É aposentado por idade, já não desempenha funções como funcionário da Prefeitura de Igarapé-Miri, mas quando solicitado, continua realizando trabalhos particulares no Cemitério Bom Jesus.
João Batista ou Tio Vá, é conhecido e querido pelo seu carisma e paciência ao conduzir os seus trabalhos.

Tia Mimim Puxadeira

Tia Mimim em fotografia do ano de 2023. Foto: Railson Wallace.

A puxadeira Calcilda Pereira de Sousa, conhecida popularmente como Tia Mimim, nasceu em 9 de abril do ano de 1944, na localidade Camotim, interior do município de Moju.
A profissão de puxadeira é muito tradicional na região do município de Igarapé-Miri e geralmente é desempenhada por mulheres que exercem a missão de cura utilizando métodos alternativos, sendo muito comum que pessoas com problemas de saúde relacionados a deslocamentos nos braços, pernas, costas e gravidez, procurem as puxadeiras, que geralmente são mulheres idosas. 
Com a construção e a expansão de hospitais nas cidades do interior da Amazônia, esta atividade foi ficando cada vez mais rara, mas ainda persiste nas poucas puxadeiras que desempenham esta função nos dias atuais.

Tia Mimim desempenhando a atividade de puxadeira.
Foto: Railson Wallace.

Tia Mimim mora em Igarapé-Miri desde os seus 5 anos e iniciou as suas atividades como puxadeira aos 13, quando ainda desenvolvia a função de peconheira (pessoa que sobe na árvore de açaí para colher os frutos). Após cair de uma árvore e deslocar um osso, Tia Mimim teria que ser atendida por um puxador chamado Benedito, que era o único da região. Como morria de medo dos métodos usados por ele, Tia Mimim decidiu que resolveria a luxação sozinha, "puxando" a si mesma. 
Com o conhecimento que adquiriu durante anos de práticas para corrigir os deslocamentos em seu próprio corpo, Tia Mimim começou a atender outras pessoas nos municípios de Igarapé-Miri, Moju, Belém, Barcarena e Cametá, tornando-se conhecida na região por corrigir luxações em humanos e até mesmo em animais. Tia Mimim também atendia mulheres gestantes, corrigindo a posição de fetos que estão em posicionamento que possam ser prejudiciais ao parto.

Casa de Tia Mimim. Foto: Marlon Rodrigues.

Tia Mimim já morou em Belém, no Canal de Igarapé-Miri e no Bairro das 5 Bocas, mas hoje reside com seus filhos e netos nas margens da Rodovia PA-151, Bairro Boa Esperança e ainda atende pessoas em sua casa. 
A cidade de Igarapé-Miri hoje possui dois hospitais e mesmo assim, Tia Mimim ainda resiste em sua profissão, sendo muito procurada para resolver luxações e problemas na gravidez, sendo a puxadeira mais conhecida de Igarapé-Miri, atendendo até mesmo, pessoas de outros municípios que procuram.

História na íntegra

Mestre Gelffson Lobo e o Boi Pai do Campo

Gelffson Lobo em fotografia do ano de 2023. Foto: Francisco Costa.

Gelffson Brandão Lobo, conhecido popularmente por Professor Gel, nasceu na cidade de Igarapé-Miri, em 05 de dezembro de 1957. Filho de Felicidade Brandão Lobo (Dona Mocinha) e Raimundo Ferreira Lobo Filho (Tio Neco), Gelffson é professor de Educação Física, formado pela Universidade do Estado do Pará (UEPA). É músico, compositor, cordelista e ativista cultural, atuando nos grupos Rosalina, a Cobra do Jatuíra, e Boi Pai do Campo. Fundou o projeto Nostalgia Miriense e é colaborador dos projetos Esporte Miriense e Anima Lendas.
Desde a sua infância na década de 60, Gelffson sempre teve contato com as manifestações culturais de Igarapé-Miri, sendo os seus pais, os organizadores de grupos folclóricos como o Cordão de Pássaro Junino do Guará, Escola de Samba Queremos Brincar e o Boi Bumbá Pai do Campo, todos esses grupos ensaiavam na mesma casa onde Gelffson morava. 
Em Igarapé-Miri já existiram vários grupos de bois bumbás como o Boi Malhadinho, Estrela Dalva, Pingo de Ouro, Sangue Azul e o Boi Pai do Campo, que junto ao Boi de Banda, hoje são os únicos ainda em atividade.
O Boi Pai do Campo foi fundado na década de 1950, por um grupo formado por Dona Baizé, Dona Mocinha, Professora Eurídice Marques, Secundino e outros colaboradores. Posteriormente o boi passou a ser comandado pelo senhor Neco Lobo, pai de Gelffson. O grupo foi inscrito na Fundação Cultural do Pará e se apresentava na casa de autoridades do município como a casa do juiz, casa do prefeito e na prefeitura, podendo também se apresentar em residências particulares, onde solicitavam sua exibição. 

Boi Pai do Campo em foto do ano de 2017. Foto: Railson Wallace.

O primeiro boi foi confeccionado em Abaetetuba e o enredo contava a história de Nego Chico, um escravo que, para saciar o desejo de sua esposa grávida por uma língua de boi, mata o gado de estimação do senhor da fazenda. Logo no início do espetáculo, o personagem Nego Chico entregava um envelope ao dono da casa. Ao término, o envelope era recolhido com uma quantia em dinheiro ofertada pelo morador que solicitou a apresentação, o valor era investido no grupo.

Gelffson Lobo em cortejo do Boi Pai do Campo, 2017.
Foto: Railson Wallace.

Em 11 de junho de 2017, após 40 anos sem atividades, com incentivos e pesquisa de Gelffson Lobo, o Boi Pai do Campo volta a se apresentar em um cortejo realizado pela Escola de Artes João Valente do Couto. O arrastão contou com a presença de autoridades e da população que acompanharam o passeio do boi pelas ruas do centro de Igarapé-Miri. O arrastão começou na Escola de Artes e terminou no Centro Cultural Aurino Quirino Gonçalves (Pinduca), onde ocorria o 38º Festival do Camarão. 

Cortejo do Boi Pai do Campo, junho de 2017.
Foto: Railson Wallace.

Hoje, o Boi Pai do Campo é organizado pela Escola Municipal de Artes João Valente do Couto e tem o Professor Gelffson Lobo como um dos seus coordenadores e colaboradores. O grupo utiliza várias músicas originais do Boi Pai do Campo e se apresenta em vários eventos em Igarapé-Miri e outros municípios. 
Em entrevista, o Professor Gel destacou que a primeira atriz a representar a Catirina, ainda está viva, tem 102 anos e reside em igarapé-Miri. 

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Maria Antonia, o Boi de Banda e o Grupo Carimbolando

Maria Antonia em foto do ano de 2023. Foto: Marlon Rodrigues.

A professora, compositora e musicista Maria Antonia de Oliveira Nonato, nasceu no dia 14 de junho de 1958, no rio Santo Antonio, interior do município de Igarapé-Miri. Filha de Levino Fonseca Nonato e Benedita Ferreira de Oliveira, cresceu na cidade de Igarapé-Miri, onde morou em vários bairros, como a África e a Marambaia, sendo atualmente moradora da Rua Rui Barbosa, no Bairro da Matinha. 
Maria Antonia começou os seus estudos no Instituto Nossa Senhora Sant'Ana, estudando também na Escola Aristóteles Emiliano de Castro (Ginásio) e na Escola Enedina Sampaio Melo, todas em Igarapé-Miri. Hoje, é formada em Pedagogia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú e em Educação Física pela Universidade do Estado do Pará (UEPA).
Desde a sua infância, Maria Antonia sempre foi apaixonada pelas manifestações culturais de Igarapé-Miri, participando das quadrilhas Alegria Junina, Roceiros da Matinha, Curumim na Roça, Cheiro de Patchouli e Roceiros da Boa Esperança. Nas bandas marciais de Igarapé-Miri, Maria Antonia atuou como regente nas bandas da extinta Escola Nossa Senhora Sant'Ana (Escola da Maria Celes), Raimundo Emiliano Pantoja, Aristóteles Emiliano de Castro (Ginásio) e do Instituto Sant'Ana (INSA), além de participações no Boi Bumbá Pingo de Ouro, onde interpretou a personagem Catirina. Participou também de grupos teatrais organizados pela professora Eurídice Marques e Rui Pureza, além de outros grupos, onde colaborou com mestres da cultura miriense, como Dona Onete, Contra-Maré, Professora Mocinha e outros. 
Na Banda de Sant'Ana, Maria Antonia ocupou por anos, o cargo presidente do grupo musical, sendo também, uma das componentes que inicialmente tocava um bombardino, passando para o trompete, mas por motivos de saúde, atua hoje, na percussão do grupo. Participou ativamente, da criação da Escola de Música da Banda de Sant'Ana Professor Amintas Pinheiro, inaugurada em julho de 2015.

Maria Antonia com a Banda Musical de Sant'Ana. 
Foto: Banda de Sant'Ana.

Em 14 de junho de 2017, Maria Antonia criou o Grupo Folclórico Carimbolando, que é uma banda musical do ritmo regional carimbó, formado hoje por 20 integrantes, que tocam músicas autorais escritas por Maria Antonia. As canções do Carimbolando, retratam os costumes, tradições e o cotidiano do povo miriense, difundindo através da música e da dança, as belezas do município de Igarapé-Miri.

Grupo Carimbolando em uma apresentação em Belém.
Foto: Paróquia São Judas Tadeu, Belém.

Em 2022, em parceria com um grupo formado por familiares e amigos, Maria Antonia criou o Boi de Banda, um boi bumbá que realiza cortejos pelas ruas da cidade de Igarapé-Miri, em momentos festivos como os festejos juninos, Festival do Camarão, Festa de Sant'Ana e outros.
O Boi de Banda mistura entre os seus brincantes, crianças, adolescentes, adultos e idosos que juntos se divertem com os coloridos cortejos pelas ruas da cidade. 

Boi de Banda em um dos cortejos pelas ruas de Igarapé-Miri. Foto: Francisco Costa.

Hoje, Maria Antonia é funcionária da Escola Municipal de Artes João Valente do Couto, onde atua como professora de Educação Física, além de participar dos grupos culturais existentes na instituição como o grupo teatral e do Boi Bumbá Pai do Campo, onde interpreta a personagem Catirina. 
Maria Antonia também trabalha como animadora infantil e coordena os grupos Boi de Banda e Carimbolando.

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Anna Tourão: a primeira médica da Amazônia

Fotografia de Anna Tourão. Fonte: Acervo Mariangela Lopes Bitar.

Embora a instituição do ensino da medicina no Brasil tenha acompanhado a chegada da família real portuguesa, em 1808, durante muito tempo não foi permitido que as mulheres frequentassem os cursos oferecidos no Brasil, os quais, por quase 100 anos a partir da sua instalação, se restringiram apenas às Faculdades da Bahia e do Rio de Janeiro.
As mulheres que desejavam seguir a profissão médica tinham que estudar na Europa ou nos Estados Unidos, que, embora com restrições, eram países que contavam, desde os meados dos anos 1800, com cursos médicos específicos para mulheres. Mesmo impedidas de estudar no Brasil, as mulheres poderiam revalidar seus diplomas caso tivessem estudado no exterior. Ainda que pareça um contrassenso, era assim que as coisas funcionavam naqueles tempos. 
Anna Tourão Machado, nasceu em Igarapé-Miri, no engenho da família, em 28 de abril de 1862, filha de Antônio Lopes Machado e Andreza Tourão, Anna era a mais velha de três irmãos: Maria Tourão Machado e Antônio Lopes Machado Filho, para o qual o pai desejava o estudo da medicina. Ocorre que o jovem Antônio não era chegado aos estudos, não conseguindo realizar o projeto de seu pai. Mas, para que o desejo de seu pai, pudesse ser realizado, Anna decidiu que ela seria a médica. E assim, em 1882, ela partiu para Nova Iorque, para a mesma faculdade em que outras brasileiras já haviam estudado, acompanhada de seu pai e de sua irmã, Maria, que lá permaneceu, estudando piano no conservatório.
Após cinco anos de estudo, Anna formou-se em 19 de abril de 1887, em uma turma composta por dez mulheres. Ao retornar ao Brasil, Anna teria que revalidar seu diploma na Bahia ou no Rio de Janeiro, mas antes passaria em sua terra natal, para as comemorações ao lado da família. Foi recebida com uma grande festa organizada por seu pai, mas que seria interrompida para que ela fosse atender uma mulher negra escravizada, em trabalho de parto.
Após visitar sua terra natal, Anna partiu para Salvador, a fim de ter seu diploma revalidado pela Faculdade de Medicina da Bahia. A revalidação do diploma implicaria em mais dois anos de estudos para Anna Tourão Machado. A estada na Bahia permitiu que a jovem médica conhecesse Emilio Ambrósio Marinho Falcão, jovem estudante pernambucano, com quem viria a casar. Entretanto, a morte de seu pai interrompeu a temporada de estudos, fazendo com que Anna voltasse para Igarapé-Miri, para cuidar das coisas da família. Ao retomar os estudos, na Bahia, três anos depois, Anna estava casada com Emilio Falcão, já formado cirurgião dentista.
Em 1891, Anna passaria uns meses em Quixadá, no Ceará, acompanhando o marido, que buscara aquela cidade para tratamento de saúde. Ali também deixaria sua marca, relembrada com carinho e reconhecimento pelo vigário da cidade, por conta da dedicação para com os habitantes do local.
Com o término dos estudos, a defesa da tese e a consequente revalidação do diploma, Anna está pronta para exercer sua profissão no Pará. Ao retornar para Belém, em 1892, a região vivia os áureos tempos da borracha, mas vivia também dias atribulados em sua política. Anna abriu um consultório na Rua 13 de maio, juntamente com seu marido, que ali também montou seu consultório de cirurgia e protese dentaria.
Tendo se envolvido em política, Emilio Falcão acabou sofrendo ameaças. Descontente com os rumos da política, arrendou o seringal "Aquidabam", no Acre, uma vasta extensão às margens do rio Acre, e partiu para lá em 1908, deixando a família em Belém.

Seringal Aquibadam. Fonte: Falcão e Álbum do Rio Acre. 1906 -1907.

Anna também se mudou para o Acre e agora, em plena floresta, tudo dependeria de sua habilidade no combate às doenças, como a malária, endêmica na região, e o surto de gripe espanhola, que chegaria até aquela localidade, provavelmente pelos imigrantes nordestinos que iam trabalhar nos seringais. Ali Anna seria a médica, a enfermeira, a parteira, tudo, fabricando ainda os seus remédios com matérias extraídas da natureza.
Em 1921, com todas as filhas casadas, Anna e o marido se mudaram para Xapuri, a cidade mais próxima e, ainda assim, distante do seringal seis horas de barco, e onde a médica continuaria a exercer sua profissão. 

Anna Tourão, já idosa, em visita a sua filha, por volta
de 1930. Fonte: Acervo Mariangela Lopes Bitar.

Anna Tourão faleceu em 1940, aos 77 anos de idade, em São Paulo. A Amazônia esperaria até 31 de dezembro de 1928 para ter sua primeira médica formada por uma escola da região: seria Olga Paes de Andrade, que colaria grau naquela data pela então Faculdade de Medicina e Cirurgia do Pará.

Extraído de:
http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2176-62232012000100002

Eurídice Marques: a Pérola Negra do Tocantins

Eurídice Marques em pronunciamento na Praça Sarges Barros. Foto: autor desconhecido.

Eurídice Soares Marques de Sousa, conhecida popularmente como Tia Eurídice, nasceu no Município de Igarapé-Miri, no dia 10 de Dezembro do ano de 1917. Filha de Manoel Luiz Marques e Lídia Soares Marques. Eurídice foi Professora, folclorista, musicista, escritora, compositora, e grande incentivadora dos movimentos culturais no município, começando seu trabalho com grupos teatrais que saíam nas casas para apresentar-se em períodos específicos do ano. Esses grupos cantavam músicas compostas por ela e utilizavam textos que também eram da autoria de Eurídice.
Seu trabalho cultural/musical inicia-se com a criação da festividade de Santo Antônio dos Inocentes, venerado em sua residência no mês de junho. Coordenou por muitos anos, a festividade de Santa Maria da Boa Esperança, nas quais rezava e cantava as novenas, acompanhada de um grupo de sopros (pistom, saxofone e trombone) e com sua batuta na mesa, amplificada por um microfone, regia os dobrados e cânticos religiosos da época.

Eurídice Marques e amigos no Barracão de Santa Maria
da Boa Esperança. Fonte: Acervo de Suely Miranda.

Professora Eurídice Marques, foi uma grande incentivadora dos movimentos culturais mirienses, seguindo os passos na tradição dos cordões de pássaros e cordões de bichos juninos, que no caso de Tia Eurídice, era cordão do Camarão. Segundo a própria Eurídice em entrevista cedida ao Jornal Diário do Pará, em junho de 1988, o folguedo coordenado por ela teria iniciado no ano 1928, quando aos 11 anos, ela brincou pela primeira vez no Cordão do Camarão, sendo a tradição retomada na década de 80. 

Cordão do Camarão, em apresentação no Teatro Margarida Schivasappa, em Belém.
 Foto do ano de 1992.

Durante o mês de abril, dirigia a peça teatral “A Paixão de Cristo”, onde findava o ano com As pastorinhas “Filhas de Conceição”. Os pastoris e o Cordão de Camarão participaram por muitos anos do projeto PREAMAR (Projeto criado no ano de 1986, pelo então Secretario de Cultura do estado João de Jesus Paes Loureiro e tinha como objetivo apoiar, valorizar e abrir espaços para exibição dos espetáculos de cultura popular). 
Já idosa, organizou um grupo de dança folclórica da 3ª idade, que era muito requisitado para apresentarem-se nos mais diversos eventos da cidade. Foi também, uma das fundadoras e coordenadoras do Círculo Operário São José, que era uma forma de dar amparo aos operários, trabalhadores em geral, que era uma organização parecida com um sindicato, foi uma das fundadoras do Clube de Mães, que atendia mães carentes, com a ajuda da Legião Brasileira de Assistência (LBA). Coordenou o Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) e juntamente com o MOBRAL, criou o Festival do Camarão de Igarapé-Miri, uma tradição que comemora a safra do camarão regional e persiste até hoje. 

Eurídice em uma apresentação na Praça Sarges
Barros. Foto: Autor desconhecido.

Tia Eurídice ficou conhecida como a "Pérola Negra do Tocantins” apelido carinhoso dado por João de Jesus Paes Loureiro, quando este, foi secretário de Estado de Educação do Pará.
Eurídice Marques faleceu no início do ano de 2007, deixando um legado na educação e cultura miriense.

Fontes: 
http://culturamiriense.blogspot.com/2015/06/euridice-marques-perola-negra-do.html
Jornal Miriense: edição 05 de fevereiro de 2007.
Jornal Diário do Pará: edição de 22 de junho de 1988.

Moca

Moca participando de uma das procissões da Festividade de Sant'Ana. Embora esteja com seu
"traje de gala" é perceptível o volume das sacolas em sua cintura. Foto: autor desconhecido.

Pode até ser difícil você saber quem foi o José Maria que perambulava pelas ruas de Igarapé-Miri, mas se apresentarmos um pouco da sua história de vida, fica fácil para os mirienses saberem de quem se trata.
Conhecido popularmente como Moca, José Maria Lobato Vera Cruz, nasceu e viveu a vida toda em Igarapé-Miri. Era filho de Marcelina Lobato e Corbiniano Vera Cruz. Não sabemos ao certo qual era sua idade, mas supomos que faleceu com mais 60 anos. Moca frequentou escola na sua infância sem haver concluído ao menos a quinta série, mas era alfabetizado.
Moca era um cidadão com deficiência intelectual, que há muitos anos viveu nas ruas de Igarapé-Miri, desde o amanhecer até ao anoitecer. Até certo ponto era inofensivo, até alguém o aborrecer. Ninguém sabia onde ele comia ou onde dormia, alguns falavam que dormia no auditório do Grupo (atualmente Escola de Artes João Valente do Couto). 

Fotografia de José Maria (Moca)
Fonte: Livro Prismas sobre Educação
e Cultura em Igarapé-Miri no
Século XX.

Moca, por mais de 30 anos, viveu construindo as suas tralhas, iniciando de um pequeno volume, utilizando o que encontrava no lixo para tecê-las e ia crescendo e crescendo, e mais um e mais outro, até o ponto de ficar tão pesado que Moca não podia mais carregar. Aí com grande pesar que ele pedia para alguém guardar e nunca mais voltava para buscar. No início dizia-se que era dinheiro que ele guardava nas suas bolotas enroladas, proveniente das frutas que vendia, mas alguém curioso já desbuchou e simplesmente era só papel, plástico e tiras de pano. Ao abandonar aquela, já inicia outra. Era um fado, construindo não se sabe o quê com aquelas quinquilharias. 
Ao cair da tarde, antes de retornar, não se sabe para onde, ele abaixava a tralha, tirava uma garrafa com água de uma sacola e simulava que havia chegado em casa. Acendia um cigarro e fumava até terminar. Era o início do ritual. Aí ele gritava bem alto: “Oh! Deus! Oh! Deus!” várias vezes. Após, iniciava seu banho com aquela água da garrafa, lavava o rosto, os braços, os pés sacodia-se bem para secar e continuava sua caminhada pelas ruas da cidade sempre repetindo “Oh! Deus! Oh! Deus!.”
Moca faleceu ainda na primeira década dos anos 2000, mas nunca deixou de fazer parte da cultura e do imaginário do povo de Igarapé-Miri.

Extraído do livro:
LOBATO, Cesarina Correa; SOARES, Crisálida Pantoja. Prismas sobre Educação e Cultura em Igarapé-Miri no século XX. Belém: Typ. da Imprensa Oficial do Estado do Pará, 2001.  p. 224-225.

Pintor Rubens Lourinho

Pintor Rubens Lourinho, em foto de 17 de setembro de 2022. Foto: Marlon Rodrigues.

Rubens Lourinho Portilho, conhecido popularmente como Rubens Pintor, nasceu na cidade de Igarapé-Miri, no dia 06 de julho de 1968. Filho de Raimunda Benedita de Seixas Lourinho e Antonio Botelho da Silva Lourinho, Rubens é pintor, artista plástico e autor de várias obras que retratam a cultura, culinária, história e natureza miriense, através da pintura.
Rubens começou sua vida artística aos 9 anos, quando pintava embarcações, aos 12 anos, já desenhava paisagens. Sem recursos para comprar telas para pintura, Rubens coletava pedaços de madeiras e confeccionava seus quadros de forma artesanal, pregando pedaços de tecidos em ripas e pintando com as tintas que conseguia, pedindo nos estaleiros. Algumas pessoas riam das pinturas de Rubens, mas muitos também o incentivavam. 
Com o tempo, Rubens foi se profissionalizando na pintura, passando a trabalhar na abertura de letras em embarcações. Em 1998, conheceu o Padre Franco, então pároco de Igarapé-Miri, que o convidou para pintar imagens sacras na Igreja Matriz e confeccionar os vitrais das janelas da Igreja de Sant'Ana que até hoje a embelezam.

Rubens Lourinho após conclusão da pintura interna da Igreja
de Sant'Ana. Foto: Acervo de Suely Miranda.

Com o seu trabalho ganhando destaque a nível estadual, Rubens foi convidado para dar aulas de pintura em um presídio de Belém. Participaram vários artistas de várias partes do Brasil. Lá, a equipe da TV Liberal (filiada Rede Globo no Pará), que estava fazendo uma matéria sobre o curso, conheceu o trabalho de Rubens, e convidaram o artista para dar aulas de pintura no Marajó. Ao retornar, a chefe do Jornalismo da TV Liberal Simone Amaro, o convidou para fazer um teste na Rede Globo no Rio de Janeiro, Rubens foi aprovado e se mudou para a cidade maravilhosa, levando os seus conhecimentos, mas também aprendendo muita coisa nova.
Rubens trabalhou na construção de cenários de várias programas da Rede Globo como o Programa da Xuxa, Domingão do Faustão, na minissérie Hilda Furacão, nas novelas Corpo Dourado, Por Amor e outros programas da emissora. 

Rubens Lourinho ao lado de algumas pinturas de sua autoria. Foto: Railson Wallace.

Após um tempo trabalhando na Globo, Rubens pediu para visitar sua família em Igarapé-Miri, mas só conseguiu autorização de viiagem após o fim da novela Por Amor, que foi gravada na Itália. Rubens veio para Igarapé-Miri, mas acabou iniciando um namoro e decidiu não voltar para o Rio de Janeiro.
Após sair da Globo, Rubens ainda trabalhou na Record TV em São Paulo e na Record TV Belém.
Rubens também é autor da famosa coleção de quadros sobre as memórias dos engenhos de Igarapé-Miri, que foram inspiradas nas memórias de falecido Miguel Machado (sogro de Rubens). Os quadros fazem parte do acervo da Casa da Cultura de Igarapé-Miri.

Uma das telas da coleção sobre os engenhos de Igarapé-Miri.
Foto: Instituto Neto Almeida.

Rubens hoje trabalha com letreiros, desenhos artísticos e publicitários, pintando telas em desenhos abstratos, paisagistas e pinturas baseadas na história e cultura miriense.
Rubens é um dos mais famosos pintores de Igarapé-Miri e tem quadros espalhados por todo o Brasil. 

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Antonio Silva: o Reginaldo Rossi do Miri

Antonio Silva, em foto de 08 de julho de 2022. Foto: Marlon Rodrigues.

Antonio dos Santos Silva, conhecido popularmente como Reginaldo Rossi do Miri, nasceu no rio Caiazinho, interior do município de Igarapé-Miri, no dia 07 de abril de 1941. Na infância, trabalhou junto aos familiares, na extração de látex de seringueiras e nos plantios e engenhos de cana-de-açúcar, que ficavam localizados no interior do município.
Após anos de trabalho pesado, decidiu mudar-se para o Marajó, depois foi para o Amazonas, retornando para Igarapé-Miri, onde constituiu família, passando a morar no rio Itamimbuca. Com a falência dos engenhos e as dificuldades de residir na zona rural, passou a morar na Rodovia PA-407, que liga Igarapé-Miri à Vila Maiauatá, próximo da ponte da Marombinha.

Fotografia de Antonio Silva. Foto: Railson Wallace.

Por não conseguir um trabalho na região da PA-407, Antonio passou por dificuldades financeiras e mudou-se para a Cidade de Igarapé-Miri, onde fez vários cursos e passou a trabalhar como relojoeiro e profissional de eletrônica, atendendo na cidade, na zona rural e até mesmo nos municípios vizinhos. Com o dinheiro oriundo do conserto de rádios e relógios, sustentou sua família e construiu sua casa.
Quando jovem, Antonio Silva ia para as festas e voltava cantando e assoviando, pois sempre foi um grande amante da música. Já adulto, comprou o seu primeiro violão e posteriormente outros instrumentos, como teclado e cavaquinho. Além de músico, o Reginaldo Rossi do Miri também é compositor, compondo várias canções que ele mesmo gravou.

Reginaldo Rossi do Miri cantando ao vivo em sua casa. Foto: Marlon Rodrigues.

Hoje, o Sr. Antonio reside na Travessa Moisés Levi, Bairro da Matinha e todos os dias, logo ao amanhecer, ele liga a sua caixa de som e coloca suas músicas gravadas para tocar, quando não, canta ao vivo. Quando quer, leva os seus shows para o centro da cidade, onde organiza seus instrumentos, para tocar e cantar.

Casa do Reginaldo Rossi do Miri. Foto: Railson Wallace.

O Reginaldo Rossi do Miri já gravou vários CDs e é bastante conhecido na cidade, por sua irreverência, alegria e criatividade. A casa de Antonio Silva chama atenção pelas cores e objetos que a ornamentam, todos esses ornamentos foram confeccionado por ele mesmo. 

Você pode assistir ao documentário completo sobre o Reginaldo Rossi do Miri. É só acessar o canal de Youtube do Projeto Cata-Histórias e Museu de Histórias de Vidas Cesarina Lobato.

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Tia Kátia e o Cordão da Marreca

Tia Kátia em foto de 19 de agosto de 2017. Foto: Railson Wallace.

Maria Catarina Nascimento Machado, conhecida popularmente como Tia Kátia, nasceu no rio Mamangal, interior do município de Igarapé-Miri, no dia 01 de abril de 1957 e faleceu em 12 de novembro de 2017. Em vida, criou grupos culturais como o Carimbó da Sereia e o Cordão da Marreca, um pássaro junino bastante popular em Igarapé-Miri.
Dona do terreiro de Umbanda São Pedro no Bairro da Boa Esperança, periferia da cidade e Igarapé-Miri, Tia Kátia ficou bastante conhecida após idealizar e criar o Cordão de Pássaro da Marreca, ou Marrequinha, ainda nos anos iniciais da década de 1990.

Apresentação do Cordão da Marreca, no XV Festival 
do Camarão de Igarapé-Miri. Fonte: Jornal Miriense,
edição de julho de 1994. 

A ideia da criação do Cordão da Marreca, surgiu após Tia Kátia ler a cantiga folclórica "Sinhá Marreca" em um livro. A partir daí, ela pediu para a filha mais velha, que a ajudasse na organização do novo cordão de pássaro junino, que ali nascia. 
Sem recursos financeiros, Tia Kátia compôs as primeiras músicas da Marreca e procurou o prefeito de Igarapé-Miri, que naquele ano, era o Sr. Miguel Tourão Pantoja, para pedir patrocínio ao grupo. Miguel Pantoja ouviu as composições, gostou e colaborou com a quantia de cem cruzeiros. Com o dinheiro, compraram vários sacos de açúcar, tintol (um tipo de tinta para tecidos), sabão e água sanitária, para lavar os sacos de açúcar que eram cortados e pintados, neles, pregavam penas de galinhas que eram lavadas e coloridas. A partir desse material, eram confeccionados os figurinos dos personagens do cordão. A primeira vestimenta da Marreca foi uma blusa branca, short saia marrom e caneleiras. 
Todos os anos, a partir do mês de maio, era grande a movimentação na casa de Tia Kátia, pois aconteciam os ensaios e a confecção dos figurinos dos personagens. Assim, muitas crianças do Bairro da Boa Esperança e pais de brincantes, participavam e ajudavam nas tarefas do grupo. 
As músicas da Marreca, eram composições de Tia Kátia, sua irmã Maria e sua cunhada Raimunda, todas as canções contavam as histórias dos personagens, como a marreca, o rei, a rainha, as floristas, o saci, os matapizeiros, a mutuquinha, a borboletinha e outros. 
Sem o apoio do poder público, sem recursos financeiros e com a crescente da violência nas periferias cidade de Igarapé-Miri, o Cordão da Marreca e outros grupos como o Cordão do Japiim e os bois bumbás, foram parando as suas atividades.

Cordão da Marreca em apresentação na Casa da Cultura
de Igarapé-Miri. Foto: Railson Wallace.

No ano de 2021, o Cordão da Marreca voltou a se apresentar, agora comandado pelos filhos de Tia Kátia, Nilma Nascimento e Nilson Nascimento, sendo atualmente, o único cordão de pássaro junino em atividade no município de Igarapé-Miri.

Nilma Nascimento e Nilson Nascimento, filhos de
Tia Kátia, que hoje dão continuidade ao Cordão
de Pássaro da Marreca. Foto Railson Wallace.

Na nova versão da manifestação, o enredo do Cordão da Marreca foi readaptado, misturando seres do folclore amazônico, animais da fauna paraense, personagens monarcas como o rei e a rainha e até mesmo personagens que fazem referência ao cotidiano do interior amazônico como os matapizeiros e o caçador. 
As canções falam sobre a preservação da natureza e lições de vida.

Você pode assistir ao documentário completo sobre o Cordão da Marreca, além do depoimento da própria Tia Kátia, gravado no ano de 2017. É só acessar o canal de Youtube do Projeto Cata-Histórias e Museu de Histórias de Vidas Cesarina Lobato.

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