Tia Kátia e o Cordão da Marreca

Tia Kátia em foto de 19 de agosto de 2017. Foto: Railson Wallace.

Maria Catarina Nascimento Machado, conhecida popularmente como Tia Kátia, nasceu no rio Mamangal, interior do município de Igarapé-Miri, no dia 01 de abril de 1957 e faleceu em 12 de novembro de 2017. Em vida, criou grupos culturais como o Carimbó da Sereia e o Cordão da Marreca, um pássaro junino bastante popular em Igarapé-Miri.
Dona do terreiro de Umbanda São Pedro no Bairro da Boa Esperança, periferia da cidade e Igarapé-Miri, Tia Kátia ficou bastante conhecida após idealizar e criar o Cordão de Pássaro da Marreca, ou Marrequinha, ainda nos anos iniciais da década de 1990.

Apresentação do Cordão da Marreca, no XV Festival 
do Camarão de Igarapé-Miri. Fonte: Jornal Miriense,
edição de julho de 1994. 

A ideia da criação do Cordão da Marreca, surgiu após Tia Kátia ler a cantiga folclórica "Sinhá Marreca" em um livro. A partir daí, ela pediu para a filha mais velha, que a ajudasse na organização do novo cordão de pássaro junino, que ali nascia. 
Sem recursos financeiros, Tia Kátia compôs as primeiras músicas da Marreca e procurou o prefeito de Igarapé-Miri, que naquele ano, era o Sr. Miguel Tourão Pantoja, para pedir patrocínio ao grupo. Miguel Pantoja ouviu as composições, gostou e colaborou com a quantia de cem cruzeiros. Com o dinheiro, compraram vários sacos de açúcar, tintol (um tipo de tinta para tecidos), sabão e água sanitária, para lavar os sacos de açúcar que eram cortados e pintados, neles, pregavam penas de galinhas que eram lavadas e coloridas. A partir desse material, eram confeccionados os figurinos dos personagens do cordão. A primeira vestimenta da Marreca foi uma blusa branca, short saia marrom e caneleiras. 
Todos os anos, a partir do mês de maio, era grande a movimentação na casa de Tia Kátia, pois aconteciam os ensaios e a confecção dos figurinos dos personagens. Assim, muitas crianças do Bairro da Boa Esperança e pais de brincantes, participavam e ajudavam nas tarefas do grupo. 
As músicas da Marreca, eram composições de Tia Kátia, sua irmã Maria e sua cunhada Raimunda, todas as canções contavam as histórias dos personagens, como a marreca, o rei, a rainha, as floristas, o saci, os matapizeiros, a mutuquinha, a borboletinha e outros. 
Sem o apoio do poder público, sem recursos financeiros e com a crescente da violência nas periferias cidade de Igarapé-Miri, o Cordão da Marreca e outros grupos como o Cordão do Japiim e os bois bumbás, foram parando as suas atividades.

Cordão da Marreca em apresentação na Casa da Cultura
de Igarapé-Miri. Foto: Railson Wallace.

No ano de 2021, o Cordão da Marreca voltou a se apresentar, agora comandado pelos filhos de Tia Kátia, Nilma Nascimento e Nilson Nascimento, sendo atualmente, o único cordão de pássaro junino em atividade no município de Igarapé-Miri.

Nilma Nascimento e Nilson Nascimento, filhos de
Tia Kátia, que hoje dão continuidade ao Cordão
de Pássaro da Marreca. Foto Railson Wallace.

Na nova versão da manifestação, o enredo do Cordão da Marreca foi readaptado, misturando seres do folclore amazônico, animais da fauna paraense, personagens monarcas como o rei e a rainha e até mesmo personagens que fazem referência ao cotidiano do interior amazônico como os matapizeiros e o caçador. 
As canções falam sobre a preservação da natureza e lições de vida.

Você pode assistir ao documentário completo sobre o Cordão da Marreca, além do depoimento da própria Tia Kátia, gravado no ano de 2017. É só acessar o canal de Youtube do Projeto Cata-Histórias e Museu de Histórias de Vidas Cesarina Lobato.

história na íntegra


Um comentário:

  1. Apaixonada na história de vida de Dona Kátia e em como ela fez cultura em nossa cidade, eu com mais de 30 anos, não conhecia sobre o Cordão da Marreca, parabéns a filha que segue com o legado da mãe (a família toda), parabéns ao bloge por nós trazer essa narrativa tão rica e bela.

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