Moca

Moca participando de uma das procissões da Festividade de Sant'Ana. Embora esteja com seu
"traje de gala" é perceptível o volume das sacolas em sua cintura. Foto: autor desconhecido.

Pode até ser difícil você saber quem foi o José Maria que perambulava pelas ruas de Igarapé-Miri, mas se apresentarmos um pouco da sua história de vida, fica fácil para os mirienses saberem de quem se trata.
Conhecido popularmente como Moca, José Maria Lobato Vera Cruz, nasceu e viveu a vida toda em Igarapé-Miri. Era filho de Marcelina Lobato e Corbiniano Vera Cruz. Não sabemos ao certo qual era sua idade, mas supomos que faleceu com mais 60 anos. Moca frequentou escola na sua infância sem haver concluído ao menos a quinta série, mas era alfabetizado.
Moca era um cidadão com deficiência intelectual, que há muitos anos viveu nas ruas de Igarapé-Miri, desde o amanhecer até ao anoitecer. Até certo ponto era inofensivo, até alguém o aborrecer. Ninguém sabia onde ele comia ou onde dormia, alguns falavam que dormia no auditório do Grupo (atualmente Escola de Artes João Valente do Couto). 

Fotografia de José Maria (Moca)
Fonte: Livro Prismas sobre Educação
e Cultura em Igarapé-Miri no
Século XX.

Moca, por mais de 30 anos, viveu construindo as suas tralhas, iniciando de um pequeno volume, utilizando o que encontrava no lixo para tecê-las e ia crescendo e crescendo, e mais um e mais outro, até o ponto de ficar tão pesado que Moca não podia mais carregar. Aí com grande pesar que ele pedia para alguém guardar e nunca mais voltava para buscar. No início dizia-se que era dinheiro que ele guardava nas suas bolotas enroladas, proveniente das frutas que vendia, mas alguém curioso já desbuchou e simplesmente era só papel, plástico e tiras de pano. Ao abandonar aquela, já inicia outra. Era um fado, construindo não se sabe o quê com aquelas quinquilharias. 
Ao cair da tarde, antes de retornar, não se sabe para onde, ele abaixava a tralha, tirava uma garrafa com água de uma sacola e simulava que havia chegado em casa. Acendia um cigarro e fumava até terminar. Era o início do ritual. Aí ele gritava bem alto: “Oh! Deus! Oh! Deus!” várias vezes. Após, iniciava seu banho com aquela água da garrafa, lavava o rosto, os braços, os pés sacodia-se bem para secar e continuava sua caminhada pelas ruas da cidade sempre repetindo “Oh! Deus! Oh! Deus!.”
Moca faleceu ainda na primeira década dos anos 2000, mas nunca deixou de fazer parte da cultura e do imaginário do povo de Igarapé-Miri.

Extraído do livro:
LOBATO, Cesarina Correa; SOARES, Crisálida Pantoja. Prismas sobre Educação e Cultura em Igarapé-Miri no século XX. Belém: Typ. da Imprensa Oficial do Estado do Pará, 2001.  p. 224-225.

2 comentários:

  1. Era um anjo que guardava a cidade!

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  2. grande moca muita lembrança dele lá na nossa linda cidade de igarapé Miri 👏👏👏👏🤝🤝🤝

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